sexta-feira, 6 de março de 2009

Chovem filmes a cântaros


Estava aqui a pensar na quantidade de filmes que repetem todos os anos, em feriados e especialmente na época natalícia. Será que há uma lei que obriga os responsáveis pelas televisões a repetirem os filmes até que o último português veja? Será que eles pensam que sofremos todos de Alzheimer e que o pessoal se esquece?

Passam o filme e pensam que gritamos de alegria.

- Boa! O Titanic outra vez! Mais três horas da minha vida à espera de saber se o barco se afunda!

Não há feriado em que não tenhamos de levar com o John Travolta e o Nicolas Cage. Aquele filme em que eles mudam a cara. O Face Off. Um daqueles filmes que faz a Lili Caneças ligar para o seu cirurgião a gritar:

- Estás a ver?! Estás a ver?!

O Forest Gump, o 60 Segundos – que já passou tanta vez que já se deve chamar “52 Horas e 60 Segundos”. A SIC, então, já repetiu tantas vezes os filmes do 007 que mesmo o senhor Arlindo Lopes, que mora perto de Manteigas, na Serra da Estrela, já sabe as falas de cor e salteado. Mesmo sem saber ler nem escrever.

Um actor qualquer graças à SIC tem uma carreira profissional preenchida.

- Então, quantos filmes fez?
- Quatro, mas dois deles a SIC passou umas 326 vezes. Portanto, é como se tivesse feito uns 401 filmes.

Sabem como é que me dou conta de que é Natal? Passa o Sozinho Em Casa. Mesmo que não houvesse decoração nas ruas, não houvesse Pais Natal nos centros comerciais… Passa o Sozinho Em Casa, é Natal.

A minha dúvida, a partir do Verão, começa a ser essa. Será que este ano o miúdo continua sozinho em casa? Começo a ter pesadelos com isso.
Acordo a meio da noite a gritar:

- Mas quantos Natais vai o raio da família esquecer-se do chavalo?

Ainda por cima com os escândalos que surgiram não há muito tempo, passarem um filme em que dois senhores de quarenta e tal anos andam uma semana a tentar agarrar um miúdo de seis. Não sei não! Só falta chamarem o filme de Sozinho em Casa… Pia!

Eu já estive a pensar muito, e cheguei à conclusão que isto de repetir filmes tem a sua lógica. Os senhores que controlam isto sabem que os portugueses têm um problema: Nunca sabem o nome dos actores e dos filmes.

- Bem, fui ver um filme com aquele… o… Aquele do cabelo assim, que andava no Ferrari. O que entrava no outro com aquela… A loira.

O português decora como eles têm o cabelo, o carro que conduziam, mas o enredo, o nome dos actores e do filme, isso não. Nomes de jogadores sim, nomes de actores de filmes não.
Não jogou no Sporting, no Porto, no Belenenses, nem foi transferido para o Benfica. É só… aquele… do cabelo assim.

Já imaginaram se o indivíduo que faz os relatos percebesse tanto de futebol como a maioria daqueles que vê os jogos percebe de cinema?

- E a bola vai nos pés daquele que tem o cabelo loiro. Passa para o outro que anda num Mercedes, atrasa para o moreno, aquele que entrou naquela equipa que… aquela que ganho o ano passado. Dribla e chuta, mas houve um que defendeu, é o… aquele que andava com… que saiu do… esse… o guarda-redes.

"Tudo de repente é oco -
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo - eu e o mundo em redor -
Fica mais que exterior."